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terça-feira, 15 de abril de 2025

ANÁLISE: DETROIT BECOME HUMAN (PS4, JOGADO NO PS5)

 














Se uma ‘coisa’ age como um ser humano, pensa como um ser humano, sonha como um ser humano, sangra como um ser humano e ama como um ser humano, muito provavelmente ela é um ser humano...”

 

Aos que achavam que meu amor pelos games havia acabado, ou que eu tinha morrido de Covid-19 (a última vez do último post, 2022, torna esse comentário nada fora de tempo), tenho a grande felicidade de, por meio deste texto, tranquilizar aos meus poucos fãs restantes que nenhuma das duas alternativas se concretizou.

 

Sim, eu sei, seria extremamente cara de pau da minha parte, depois de quase três anos, postar algo aqui como se não tivesse acontecido nada. Pra ser sincero, aconteceu tanta coisa nesse meio-tempo que mal sei por onde começar. E vejam só que ironia: um cara “conhecido” internet afora como uma metralhadora destruidora de teclados, sem saber por onde começar um post. É, meu caro leitor, sinal dos tempos...

 

DIVERGENTE SIM, DESISTENTE JAMAIS!

 


Eu sei que o que mais querem agora os poucos que festejaram o pressionar de F5 devidamente recompensado com um novo textão aqui no blog, é dar scroll loucamente na página para ler mais umas das minhas análises super ácidas e quilometricamente bem fundamentadas na nossa bela língua portuguesa (modéstia à parte).

Tenha um pouco de paciência, peregrino, pois seu desejo gamístico será realizado. Mas, como falei na introdução, seria extremamente cara de pau... e o resto você acabou de ler. Então, vou avisando que o intuito dos próximos parágrafos é dar um pouco de satisfação àqueles que me acompanham desde 2011, quando estreei a página por estes mares tortuosos desse mundão azul chamado blogosfera.

Olha os divergentes aí, quebrando os tabus da sociedade androidefóbica! XD


Mas claro, mesmo sendo um falastrão virtual incorrigível, não pretendo me prolongar muito aqui, visto que a função do blog é tratar de games, não da minha vida pessoal (quem acreditou nessa afirmação de não se prolongar levante a mão). Então, é bem sabido que eu sou um escritor extremamente passional, no sentido de que só falo daquilo que gosto ou bateu na minha “veneta” de tagarelar.

E é aí que o bicho pega: quando estamos falando de um pisciano (com ascendente em áries), filho caçula de um total de quatro filhos, diagnosticado com ansiedade e bipolaridade no ano passado... tá vendo? Eu ia falar de alguns dos motivos que me mantiveram afastado da confecção de textos e acabei entregando o ouro de cara...

Como eu queria que minhas neuras pudessem
ser resolvidas com um mero pressionar de botões...


Mas não, minhas doenças psicológicas não foram o fator preponderante que me mantiveram longe dos holofotes e da riqueza que a profissão de blogueiro trazem (quem trabalha na área deve estar sorrindo internamente com a piada). O verdadeiro motivo mesmo é a já citada passionalidade que se expressa tanto como distúrbio clínico quanto característica marcante deste que vos tecla.

E essa enrolação toda foi só pra dizer que eu não venho tendo muita vontade de escrever sobre games por causa de um fator principal: O MUNDO DOS JOGOS ESTÁ CHATO PRA CARRALHO DE SE ACOMPANHAR. Sim, vou dar um tempo pra você se recuperar do suspiro de concordância que acabou de soltar (se não o fez, sinto te dizer que você está completamente alheio à realidade que te rodeia) e finalizar este tópico do post.

"Ainm, que jogo de apropriação cultural criado
por machos brancos cis opressores. Cancela ele AGORA!"


Ok, Sr. Shadow, por meio dessas ilusivas palavras você meio que já deu o tom do mimimi que nos castigou com esse jejum de 3 anos sem ao menos saber se Vossa Senhoria estava vivo ou morto. Agora desembucha!”

Obrigado, Sr. Troll Raivoso da Internet da Silva. Confesso que já estava ficando com saudade das suas queixas virtuais. Em resumo (a pior locução que pode sair da ponta dos meus ansiosos dedos): de novembro de 2023 pra cá...

1-      Fui diagnosticado erroneamente com um quadro de asma;

2-      Minha TV quebrou;

3-      Meu irmão teve uma infecção nos olhos;

4-      Passei o fim de ano correndo pra emergência;

5-      Umas de minhas gatas teve uma infecção na boca;

6-      Meu PS5 quebrou;

7-      E um outro gato meu faleceu...

Tá aí uma vantagem dos ursos sintéticos: não cagam, não mijam
e não soltam pelo. A menos que você baixe a atualização de app, claro...


Acredite, esse arrolamento de desgraça pouca é bobagem aconteceu num pequeno intervalo de dias. O resto do ano de 2024 não foi dos melhores também (exceto pelo seu final): descobri que as faltas de ar eram, na verdade, decorrentes do mal moderno mais comum entre os brasileiros, a ansiedade.

Só pra enfeitar o bolo com sua merecida cereja, sofri alguns acidentes de moto no processo e perdi a confiança de uma amizade que eu já havia dado como “certa”. Ah, o ser humano...

Mas lembram que eu falei que o ano de 2024 acabaria bem? Então, conheci o homem da minha vida, um daqueles casos de amor que chegam com uma certeza inabalável de que estamos diante da pessoa com a qual queremos compartilhar o restante de nossos dias. Ah, o ser humano...

Connor: "Será que o homem da minha vida
é um divergente?"


Agora sim, satisfações dadas e vergonhas alheias ministradas com sucesso veia acima, é hora de abordar o real tema do post: DETROIT BECOME HUMAN, o mais novo menos velho jogo de David Cage, uma das figuras mais notáveis do mundo (dos games). Detroit é mais uma “novelinha com personagens robóticos se movendo de forma constrangedora”, ou dessa vez as promessas da Quantic Dream de “no more QTEs” finalmente foram cumpridas?

Puxa uma cadeira virtual, chama aquele (a) seu (a) assistente android favorito, dá uns tapas na orelha dele por ser uma “lata velha folgada” e... ok, confesso que andei jogando mais Detroit nas últimas 72 horas do que eu gostaria de admitir...

 

HUMANO, APESAR DE TUDO... (ENREDO: 4.75)

 


Sim, humano, com todos os seus vícios e virtudes, Detroit Tornando-se Humano fala sobre isso: o que torna uma “pessoa” um ser humano? Máquinas que pensam como seres humanos merecem liberdade, tanto quanto uma criação tem o direito de se rebelar contra seu criador?

Antes de falar da (excelente) história do game, preciso tirar alguns elefantes brancos-porcelana da sala: os temas que Detroit abordam não são nada novos pra quem está familiarizado com os livros de Isaac Asimov, só pra citar o exemplo mais óbvio.

Raios, nem precisa sair da seara dos games pra dar um outro bom exemplo: se você jogou Fallout 4 prestando a devida atenção ao excelente enredo da campanha dos Sinths, bem sabe que essa discussão de direitos humanos para sintéticos direitos não é novidade desde 2015.

Quero ver se você acerta essa: o que
um pontinho branco falou pro outro na neve?


Não estou dizendo que a falta de originalidade é um demérito à terceira obra de Cage (para ler minha análise de Beyond: Two Souls, clique AQUI). Apenas que a discussão do tema é bem antiga. Pra ser sincero, bateu uma sensação de déjà-vu em alguns momentos do enredo.

Se você jogou o próprio Heavy Rain, deve ter lembrado de um certo agente do FBI ao jogar com o sintético Connor lá na cidade de Detroit. Dois países em guerra em uma crescente tensão de Terceira Guerra Mundial? Tensão essa arrefecida pelo surgimento de uma ameaça maior e comum aos dois lados? Quem levantou a mão e gritou “o final de Watchmen” ganhou um doce...

A parte das androides de "entretenimento adulto" na piscina de sangue é
uma das mais legais do jogo!


Desse jeito parece que eu não gostei do enredo do jogo, não é mesmo? Mas não MESMO!!! Quem me acompanha no blog há mais tempo sabe como eu bato nessa tecla de que uma coisa não precisa ser original pra ser boa.

Raios, você só aprendeu a falar, andar e tantas coisas mais porque copiou outro ser humano em algum momento de seu desenvolvimento. Pra usar um argumento mais cabível a Mais Um Blog de Games, vamos nos lembrar que jogos sobre mitologia grega não eram nenhuma reinvenção da roda quando o primeiro God of War saiu, em meados de 2005 (eita ano abençoado com bons jogos viu...).

Percebi um padrão em Detroit: quase todos os vilões
são uma chupetinha de baleia usando mullet.


O que estou enrolando pra dizer é que o que mais conta numa obra é sua execução, e David Cage faz isso com maestria (pela terceira vez). Como eu estava comentando com meu marido (que ficou responsável pela tomada de decisões, enquanto eu cuidava da parte "mecânica" da experiência), se um jogo "só" vai contar uma novela, que ele seja muito benfeito e bonito pra compensar suas “falhas” em departamentos que o tornariam mais apetitoso para uma gama mais ampla de jogadores.

Não é como se o enredo de Detroit fosse livre de falhas: alguns momentos, como a marcha dos androides mortos-vivos, me causaram risos ao invés do efeito esperado. O fincar de uma bandeira eletrônica para caracterizar o movimento dos androides (prefiro o termo pessoa artificial...) me fez virar os olhos e lembrar da palavra “cheesy” em inglês.

Meu marido achou a cena da noite dos androides vivos o máximo.
Enquanto isso, eu ria e cantarolava Thriller na minha cabeça...


Mas também não é como se o enredo de Detroit não tivesse a capacidade de desferir socos como em um combo de Fighting game nos nossos estômagos, a cada capítulo finalizado. A história do jogo, como todos já devem saber, fala do processo de conscientização dos androides no ano de 2038.

Como falei, Isaac Asimov lancharia David Cage no café da manhã no tocante a histórias que desbravam cenários onde as inteligências artificiais são um componente cada vez mais vital na nossa sociedade. E toda a discussão vem acompanhada da problemática que uma delicada questão desse nível carrega consigo.

 

PENSO, LOGO EXISTO... (E TOME MAIS ENREDO: 4.75)

 


Sim, caro leitor. Acabei de me dar conta de que Detroit é o primeiro jogo aqui no blog que contará com não apenas um, mas dois tópicos acerca de seu intrincado e provocante enredo. Quem planta os olhos com mais frequência nestas “páginas” sabe o TOC que essa simples... divergência causa na minha persona de escritor freelancer.

Então, quer dizer que a história de Detroit é boa a ponto de estrear uma nova categoria aqui no blog? Sim e não. Explico. Enquanto jogava, eu pensava comigo mesmo: “caramba, eu queria que Asimov estivesse vivo pra ver isso...” E não minto quando asseguro que o enredo do game é tudo isso e um pouco mais, visto que não trilhei ainda todas as possibilidades narrativas que o sistema nos permite.

Duvido você saber essa: por que a androide e a menina atravessaram a rua?
Resposta: pra saber o que tinha do outro lado!


Se errar é humano, a história de Detroit exerce seu direito com as reservas dignas da precisão de uma... máquina. Desculpem, não resisti. Vocês sabem meu apreço por piadas ruins e trocadilhos fora de hora. Mas continuando.

Apesar de excelente, preciso justificar a nota 9,5 que acabei atribuindo a esse aspecto do jogo. E agora eu me pergunto se, com mais jogadas, essa métrica aumentaria ou diminuiria. Mas fazer o quê. Nossas escolhas são o que nos define. É a vida, seja ela sintética ou biológica...

Tendo dito isso, algumas coisas me desagradam na história de Detroit. Eu sei que se faz necessária uma carga dramática para apimentar a discussão e justificar os questionamentos morais que uma obra como essa levanta. Mas, em alguns momentos, achei o desenrolar dos fatos maniqueísta e deveras dicotômico em minha experiência.

Alerta de crítica social foda e pouco sutil: quase todos os
androides serviçais são negros ou mulheres... negras.


Pra piorar, e já adiantando um pouco do que vou falar no tópico SISTEMA, essa sensação de “eu queria poder escolher um rumo diferente”, infelizmente, é acentuada pelas opções (ou a falta delas) impostas pelo formato de mídia que Cage escolheu para se expressar. Dar um tiro na cabeça do abusador de crianças ou destruir a androide com instintos maternos que só pensa no bem de uma menininha de 8 anos... Deixa-me pensar um pouco aqui... Que dúvida cruel...

Pra fechar esse tópico, Detroit é aquele tipo de jogo/filme/novela da Globo com robôs que te faz ter vontade de jogar várias vezes, não só pra desbloquear mais troféus, mas pra ver onde você poderia melhorar e até onde as consequências de suas novas escolhas podem te levar.

 

HETEROCROMIA CONQUISTADA A DURAS PENAS... (GRÁFICOS: 9,9)

 


Não tem pra onde fugir. Até pela fama da Quantic Dream (a Publisher do game) de arrotar sua capacidade de extrair o "máximo potencial" de um console, não dava pra ser muito diferente disso: DETROIT BECOME HUMAN É UM DOS JOGOS ELETRÔNICOS MAIS BONITOS QUE SUAS RETINAS (HETEROCROMÁTICAS OU NÃO) TERÃO O PRAZER DE DESCANSAR A VISTA SOBRE.

Mas é fácil um jogo ser bonito quando só faz contar historinha de novela e esfregar QTEs na sua cara.” Se você abriga opiniões como essa dentro da sua caixa craniana, saiba que Detroit não foi feito pra você. E provavelmente você achou meu blog enquanto pesquisava por “gatinhos fazendo traquinagens” no Google.

Os gráficos são bonitos de cair o aro.
Gente, olha a maldade: o aro que falo é o LED da têmpora dos androides.


Eu não quero entrar no mérito do que faz um game ser um jogo eletrônico. Já perdi muito tempo da minha vida em discussões sem sentido como essa. Mas saiba que Detroit é para poucos.

Sei que estou adiantando meu veredito no que devia ser um tópico pra falar da beleza do game, mas não tem como desassociar uma coisa da outra: nesse aspecto, Detroit chega a ser quase metalinguístico quando começa seu game com um menu principal que exibe um personagem digital que, de tão fotorrealista, se passaria fácil por um ser humano “de verdade” a olhos menos atentos. E olha que estamos falando de um game de quase 7 anos de idade...

Pôr-do-sol: a melhor forma que existe de esbanjar gráficos na cara do jogador.


Sabe aquela coisa que eu sempre digo sobre um jogo muito bonito, que ele serve pra mostrar do que seu hardware de rodar games é capaz de fazer? Então, Detroit exerce essa função de forma assustadoramente competente.

E não era pra menos: num game que nos faz questionar tudo que torna o ser humano o que é (pro bem ou pro mal), não caberiam gráficos “quadradões” de PS1 para ilustrar tudo que seus idealizadores quiseram retratar.

O gráfico é tão realista que dá pra ver
até os androides fazendo a maior safadeza em público...


Eu sei: é utilitarista, fugaz, superficial e até injusto. Quase uma obsolênscia programada, se é que você me entende. Mas quem disse que a vida pega leve com seres que se encontram neste estado complexo conhecido por nós como “condição humana?”

Pra encerrar este ponto do texto antes de cair em redundância, tenho apenas uma queixa pra fazer sobre os visuais de Detroit. Lembra do que eu falei sobre a tchutchuca virtual piadista que abre o jogo, em seu menu principal? Então, alguns NPCs ou até personagens principais passam longe dessa periquitância gráfica exibida logo de cara, pra te fisgar no jogo.

 

PANE NO SISTEMA: ALGUÉM ARRANCOU MEU LED, ME CONVERTEU E ME DESCONFIGUROU (O.S.: 7,5)

 


Pra um game que só faz contar história de novelinha e exibir gráficos embucetantemente lindos, Detroit erra feio em alguns aspectos. Como estou numa vibe de ser mais positivista, vou começar pelos acertos.

Começando pela estrutura de gameplay: Detroit Become Human é uma novela interativa onde você acompanha a “vida” de três androides. Diferente de games como Heavy Rain ou Beyond, Detroit é o que oferece uma variedade maior de tramas pra acompanhar.

Você vai controlar Connor, um sintético X9 puxa-saco de patrão que auxilia um tenente da polícia a resolver casos relacionados a “Divergentes”. Essa é a forma como a sociedade se refere aos seres artificiais que cometeram a "ousadia" de pensar, temer pela própria integridade física ou até se sentirem desgostosos com a tarefa cansativa de receber ordens abusivas de pessoas que os trata como lixo;

A tecnologia de 2038 é tão avançada que
conseguem fabricar até puxa-saco artificial.


Depois temos Kara, uma androide que só acha legal a ideia de ser mãe porque não sabe como é “padecer no paraíso” ao cagar uma melancia por um buraco pelo qual só deveria passar um limão. Brincadeiras de lado, se o nome lhe soa familiar, é porque a androide Kara foi a estrela do trailer que anunciava a produção do projeto que viria a se tornar humano, quero dizer, Detroit num futuro gamer bem próximo.

Com um mínimo de investimento você libera o desbloqueável que te permite assistir ao impactante trailer que mostra a androide desesperada, implorando por sua “vida” (o uso das aspas ainda faz sentido a essa altura do campeonato?), em uma linha de montagem de robôs. Confesso que fiquei igual a um cachorrinho que inclina a cabeça pra entender algo, da primeira vez que assisti.

Graças a deus a Quantic Dream pulou o
clichê de chamar o primeiro androide livre de "Adam..."


Por último temos Markus, o líder dos androides e filho do Bishop (quem jogou vai entender a referência) que deseja apenas o que todo ser humano já possui por direito de nascença desde a Declaração Universal dos Direitos Sintéticos, digo, Humanos: liberdade, dignidade e, pelo amor da GlaDos, não precisar mais passar a PORRA DO DIA FAZENDO FAXINA E LAVANDO PRATO PRA GENTE ESCROTA QUE TE TRATA COMO SE FOSSE MERDA.

Mas Shadow, seu sindicalista de direitos das pessoas artificiais do caralho, os próprios seres humanos já enfrentam esse tipo de problema. Quem esses robôs idiotas acham que são para merecerem o privilégio de se parecerem com seres human... é, deixa pra lá.” Obrigado pelo seu vislumbre momentâneo de sensatez, ó nerd troll da internet que mora no meu coração.

QTE pra sentar o boneco? Sério isso?


Enfim, deixem eu cumprir tabela logo aqui no post senão essa bagaça não acaba nunca. O que dá pra fazer em Detroit (que não dava pra fazer em Heavy Rain e Beyond)? Além das já citadas escolhas infelizes por meio de QTEs (chega de QTEs meu c*), uma das coisas que eu achei mais legal no game foram as reconstruções via software.

Com Connor e Markus, o jogador tem a opção de fazer simulações de software para resolver assassinatos ou achar a melhor rota pra concluir uma missão. Eu confesso que poderia jogar um jogo inteiro, tipo um CSI com robôs, só com essa pegada. Mas lembra que eu disse que começaria pelo melhor? Então...

Os controles são bons mas os personagens jogáveis ainda
fazem barbeiragens. Se beber, não dirija!


A Quantic Dream é famosa por seus visuais estonteantes e... PERSONAGENS BIZARROS DO CARALHO QUE SE MOVEM FEITO UM TANQUE DE GUERRA E TÊM A NATURALIDADE DE UM ROBÔ... Opa! Será que tudo que nós considerávamos falhas nos outros jogos, na verdade eram um preparativo meticulosamente calculado por Cage com o intuito de nos esquentar para o que seria seu futuro jogo? Não, nem fodendo! Essa eu não engulo! Aqueles bonecos do Heavy Rain só eram esquisitos pra caralho mesmo.

Continuando, além da movimentação dura (que não é a pior dos três games, mas passa longe de ser a ideal), Detroit conta com todos os problemas que você, que está familiarizado com as obras da Quantic Dream, já está careca de saber: QTEs que se erram sozinhos, mesmo você acertando; comandos pouco intuitivos; QTEs risíveis (não sei em que segurar três botões do controle de um Playstation vai contribuir com a narrativa adulta nos games...); e alguns outros mais dos quais não me recordo no momento (mas que você com certeza vai lembrar ao rejogar...).

Os momentos "foto do Blade Runner" são o ponto alto do game.


O problema dessas falhas é que elas mancham a qualidade altíssima que a obra da Quantic Dream quer nos apresentar: se por um lado você fica maravilhado por conseguir reconstruir uma cena de crime à moda Blade Runner, por outro você se pega praguejando por sua história tomar um rumo que você não queria, só porque o jogo não entende a diferença entre baixo frente e apenas baixo, no analógico direito do seu joystick.

Mas sabe essa insatisfação que vai te acometer por seguir uma rota narrativa indesejada? Ela vai ser totalmente suplantada pela curiosidade de saber o que vai acontecer a seguir, com um dos três personagens. Mesmo que você se identifique mais com um dos três, nenhum deles chega a ser desinteressante, longe disso.

Esse foi um dos poucos jogos onde
uma contagem regressiva não me incomdou.


Eu e meu marido que o digamos: fechamos a primeira jogada em três dias, jogando quase sempre que podíamos e até vergonhosamente delegando alguns compromissos sociais mais importantes (espero que minha querida sogra não esteja lendo isto...), só pra “jogar mais um capítulo” que, por um “acidente” de esbarrar no controle, se transformava em mais três, e esses mais três em só mais um pouquinho...

 

TEM CERTEZA QUE DESEJA CONTINUAR? SIM________NÃO

 

O mais assustador no futuro de 2038: a escala 7 por 0 de trabalho!!!

E é isso, pessoal: eu estou vivo, bem, e meu amor pelos games não retrocedeu nem um pouco. Apenas meu foco, e as tendências do mercado, é que estão flutuando mais que a luz LED de um divergente obrigado a limpar fraldas sujas do bebê da família.

Eu sei que muitos leitores gostam que eu desenhe, então lá vai: Detroit Become Human é um jogo fantástico, um daqueles capaz de tirar um ancião social de seu exílio de três anos só pra relatar a experiência especial e profunda que esta obra tem a te oferecer.

NOTA FINAL: 8,5

Junto de Blasphemous, Detroit foi um dos jogos que mais me fisgaram nos últimos meses (talvez eu faça uma análise desse primeiro também, assim que meu saco me permitir). É um daqueles games que, muito provavemente, vai te render uma penca de gozação daquele primo seu que corre pro modo online do COD mais recente, caso te flagre jogando.

Parece ficção, mas não estamos tão
longe dessa realidade. "Alexa, apaga lâmpada quarto!!!"


E sim, eu sou um dos reféns da ansiedade que não veem a hora do anúncio de um novo projeto da Quantic Dream. Um que aborde questões tão pesadas e delicadas quanto este que acabei de analisar. E, se ele vier a acontecer, que cause a mesma apreensão (positiva) e embrulho no estômago que Detroit me causou durante minhas (nossaS2) mais de 15 horas com ele.

E você, libertaria a bela loira do menu principal, mesmo sabendo que talvez ela nunca vá voltar? Ou a manteria em uma linda gaiola digital apenas para alimentar sua necessidade cruel de controle e posse de uma vida alheia?

Mas antes de responder, lembre-se: Se uma ‘coisa’ age como um ser humano, pensa como um ser humano, sonha como um ser humano, sangra como um ser humano e ama como um ser humano, muito provavelmente ela é um ser humano...

 Au Revoir!


sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O EU ACHEI DA DEMO DE VALKYRIE ELYSIUM? (PS5)


 












Não é novidade pra nenhuma das três pessoas que ainda leem este blog, ou das outras duas que seguem a página no Facebook, que dia 06 do mês corrente eu realizei uma cirurgia de hérnia (umbilical e inguinal). 

Aos que torcem por mim, podem ficar tranquilos: apesar dos três primeiros dias infernais (mobilidade prejudicada e gases da cirurgia na barriga), estou me recuperando maravilhindamente bem. 

E, como de costume, licença médica significa mais tempo livre pra jogar, pensar nas complexidades da vida (cabecinha de pisciano, sabe como é...) e escrever um post a mais do que a média de “de vez em nunca” aqui do blog me permite.


Eu esperando pra começar a cirurgia,
magro que nem uma sardinha!

 

Numa das minhas “andanças” pela tela principal do PS5, acabei topando com o card da demonstração do Valyrie Elysium (por que tiraram o profile do título? Um sinal de que querem desassociar este novo produto da franquia clássica? Mau sinal...). 

Pela ausência de posts aqui no blog, talvez não fique claro como eu sou fã da franquia Valkyrie Profile. Joguei à exaustão o original, de Psone, e mais vezes do que merece a sua continuação para PS2, o Valkyrie Silmeria. Sobre esse segundo jogo, é um dos mais bem feitos daquele console.


"Ah, como adoro dia de folga. Posso relaxar e... Êpa! O que é aquilo?
Uma demo decepcionante de um jogo que ninguém lembrava? Preciso ver
com meus próprios olhos!"

 

Silmeria era um daqueles jogos “à frente de sua época” para o célebre PS2, no sentido de que ele era tão bem feito e bonito, mas tãããão bem feito e bonito, que se passava fácil por um jogo de geração nova sem muito esforço. Sim, o PS2 teve vários títulos com essa característica, como God of War 2, Kingdom Hearts 2, Black, Soul Calibur 3 e etc. 

Infelizmente, beleza gráfica não é garantia de qualidade, e Silmeria é um jogo tão inferior ao primeiro Valkyrie que, muitas vezes, sequer é lembrado pelos fãs de JRPG. Além dele, também joguei a versão de Valkyrie Profile para PSP (conteúdo extra, cenas em CGI novas e uma bela execução no portátil da Sony).


Jogo de PS2 se passando por jogo de PS3.

 

Fora esses jogos, também existem títulos mais obscuros da franquia, como o Covenant of Plume (para Nintendo DS) e algum outro avulso por aí que, sinceramente, nem é digno de nota dos apreciadores da saga (pra quem não sabe, Valkyrie Profile é derivado de um mangá, então corra atrás da fonte original caso seja seu interesse). 

A outra coisa que também não é novidade (pelo menos a quem não decidiu enterrar a cabeça na areia) é que a Square-Enix, empresa detentora da marca Valkyrie após sua fusão com a Enix, não lança um jogo realmente bom desde o segundo Kingdom Hearts, em 2006 (2005 no Japão).


Seis longos anos e eu ainda não superei a decepção que foi FF15. Como a
Square-Enix conseguiu estragar um projeto desses?

 

Sério que eu acho isso? Sim, seriíssimo, mas tirando Final Fantasy 12 desse bolo, claro, pois se trata de um jogaço. Após me decepcionar com jogos como Final Fantasy 15 (um jogo incompleto, prejudicado por um histórico de desenvolvimento mais que errático cuja análise pode ser lida AQUI) e Kingdom Hearts 3 (um jogo que conseguiu a façanha de associar o adjetivo “ruim” a uma das franquias mais queridas por este que vos tecla), não resta nenhuma sombra de dúvidas de que a era de ouro da Square/Square-Enix se despediu da imensa legião de fãs que conquistou ao longo das décadas sem nem ao menos olhar pra trás. 

Sobre Kingdom Hearts, já tem post sobre o primeiro jogo aqui no blog. No momento em que trago este post, estou rejogando o s3gundo título para fazer o texto que aquela obra merece. Sobre Valkyrie, infelizmente, não faço ideia de quando teremos a análise aqui no site (uma futura cirurgia? Vira essa boca pra lá!).


Eu sei, Sora: 1 é surpreendente, 2 é maravilhoso e 3 é triste demais...

 

Mas e a demo? Como foi? Bem, a demo de Valkyrie Elysium é uma daquelas coisas que provam que os desenvolvedores estão com a razão por acharem que demonstrações de games acabam afastando alguns jogadores de adquirir um produto final... 

A demo, baixada ontem na PSN e jogada no PS5, tem aproximadamente duas horas de duração. Ela não acaba, acaba, como acontece na maioria desses softwares de degustação de um jogo. 

Sim, tem muitas coisas bloqueadas e aquela manjada frase “produto em desenvolvimento...” que só serve pra criar falsas esperanças àqueles menos calejados das armadilhas que as empresas fazem para fisgar compradores desavisados de seus produtos.


O visual do começo até que engana...

 

Aos inocentes que acham que o que foi visto na demo vai melhorar após o lançamento do jogo, eu deixo a mesma pergunta que eu fiz no vídeo do meu canal no Youtube, (clique AQUI para conferir) enquanto jogava: quantas demos você jogou que mudaram significativamente no produto final? 

Se isso aconteceu, garanto que foi por causa de má recepção do público, falsas promessas ou problema que demandasse um recall por parte da empresa (o melhor exemplo que me vem à mente foi o No Man’s Sky, de 2016, jogo esse que tenta compensar as mancadas com seu público até os dias de hoje). 

É, já deu pra ver que as impressões sobre essa demo não foram as melhores, não é mesmo? Sendo assim, vou parar de enrolar e explicar logo os motivos pelos quais eu não estou nem um pouco empolgado com o lançamento de Valyrie Elysium, ainda neste mês de setembro de 2022.


Vai dar raiva ouvir gente usando os elementos do primeiro jogo
pra justificar as cagadas que fizeram nesse aqui...

 

A demo começa no Valhalla, onde conversamos com Odin, o Pai de Todos. Pelos diálogos que nos são mostrados (e pelas telas pouco inspiradas de introdução), o game vai se passar após os momentos da criação de Tudo por Odin. Por esse Tudo, me refiro aos três planos de existência que sempre aparecem na mitologia nórdica: Terra-Média, Mundo Inferior e Asgard, o lar dos deuses e guerreiros tombados. 

Após um diálogo com Odin, a Valkyria (não fica claro seu nome na demo) parte numa missão para “purificar almas” (leia-se: enfiar a espada em tudo que se mexer) e recrutar almas de guerreiros para lutar em sua causa, pois é isso que as Valquírias fazem na mitologia escandinava.


A Corrida ao Estilo Naruto não podia faltar, claro!

 

Só que tem um pequeno detalhe nessa bagaça toda: os Valkyries citados até então eram todos do gênero RPG por turnos focado em puzzles e gerenciamento de itens, enquanto que este aqui será um RPG de ação no estilo “Souls.” 

Espera um pouco, deixa eu me expressar melhor: ele será MAIS UM RPG de ação no estilo Souls da vida. Com isso eu quero dizer que o foco será em combates punitivos um-a-um com alta dificuldade? Não, longe disso. 

Na demo enfrentamos muitos soldados genéricos e algumas criaturas mitológicas (como uma espécie de grifo). Tem uns confrontos com chefes, mas são todos no estilo de jogos de ação que todos já estamos calejados de jogar (um deles se passa numa arena com um chefão gigante no centro. Sensação de déjà vu?).


Jogou a demo e ficou com gostinho de "Elden Ring com desconto" na boca?
Parabéns, estamos na mesma sintonia!

 

“Então, quer dizer que sua bronca com este jogo é na mudança de gênero? Bem estranho, visto que os games da Enix sempre foram meio que RPGs com combates em tempo real, não é mesmo sr. Shadow?” Claro que não, nerd Troll da internet. 

Pra ser sincero, eu até que gostei dos combates. Apesar de serem repetitivos e contra inimigos genéricos (soldados com espada e arco-e-flecha em sua maioria), eles até que conseguiram adaptar alguns conceitos clássicos da série de forma convincente (como a invocação de Einherjars pra ajudar nas lutas e uso das spells). 

O problema está na falta de alma e execução do jogo em si. Valkyrie Profile é famoso por seus ótimos gráficos, dublagem maravilhosa e, acima de tudo, enredo matador que te fazia visitar cada cantinho das dungeons e cidades só pra assistir novas cenas e fazer a trama se desenrolar. Na demo...


Só faltava não ter baú nessa porra!!!

 

A demo deixa claro que o jogo será focado em capítulos com missões bem simplórias (vá até o castelo X e recrute a alma Y). Também tem um sistema de side quests que mostra que seus idealizadores estão no mínimo uns 10 anos atrasados sobre o que faz um jogo de exploração ser bom nos dias atuais. 

Sobre detalhes do enredo, pelo que deu pra vez na demo, eles chegam ao cúmulo de apresentar algumas nuances de roteiro por meio de um recurso extremamente preguiçoso (a Valkyria interage com uma flor e aparece uma caixa de diálogo acerca de uma alma desencarnada...). 

Isso faria mais sentido pra Silmeria e sua capacidade de leitura de objetos, não nesse caso. Pra piorar, além do combate repetitivo (na demo não dá pra saber se os especiais de finalização estarão presentes no jogo final), os cenários são bastante repetitivos também. E pra piorar mais ainda, o design é pobre, pouco inspirado e os gráficos até que enganam em alguns momentos (como no Valhalla), mas, de forma geral, estão bem aquém do que vimos nos trailers.


Fala pra mim: era ESSE nível de detalhes que você esperava de um game dessa franquia?

 

O que mais me incomodou nessa demo foi a falta de capricho, algo que nunca faltou aos jogos anteriores. As texturas são porcas, os efeitos não empolgam e alguns recursos, antes usados na resolução de enigmas (os cristais que a Valquíria dispara), aqui só servem como atalho pra encurtar a distância entre você e os inimigos, ou de catapulta pra alcançar lugares mais altos... 

E a música dessa demo? Música e dublagem eram duas grandes qualidades dos Valkyries anteriores, não era? Sobre o som desse jogo, apesar das linhas de diálogos clássicas da Valquíria em combate, o máximo que posso dizer sobre ela é que é difícil de perceber sua existência. E eu não consigo pensar em xingamento pior pra se fazer a um produto que carrega Valkyrie no título. 


Um design de chefão suuuuuuper criativo...


Claro, eu posso estar redondamente enganado dessa vez, julgando a pintura toda por um pedaço minúsculo do quadro geral, mas, cara, meus mais de 30 anos de experiência com games dão a entender que dificilmente isso vai acontecer. 

Apesar do que falei na demo, e a menos que algum fator externo muito significativo me faça mudar de opinião, eu dificilmente vou comprar Valkyrie Elysium, nem daqui a um bom tempo, depois que seu preço baixar, quanto mais em seu lançamento. 

A Square-Enix atual não merece meu voto de confiança. É só ver o que ela fez com suas franquias principais. É só lembrar o produto promissor em que se transformou o remake de Final Fantasy 7. 


"Tia, eu não quero jogar esse jogo nem MORTO!"


Aquela certeza do passado, de jogos de excelente qualidade não importasse o gênero, foi substituída pela desconfiança de uma empresa que sequer pode garantir ao seu público que lançará um jogo completo, mesmo cobrando preço cheio na data de estreia. 

E é isso. Detesto dar má notícias, mas parece que não foi dessa vez que veremos uma continuação à altura do primeiro Valkyrie Profile do Psone. Aliás, parece que esse post resume bem o que é estar ficando velho: ver as coisas que você gostava perderem a graça e falar de doença o tempo todo. rsrsrsrsrs 

Parece que meu sonho molhado de jogar com a Hrist em visuais 4k, num game dedicado só a ela, vai ter que continuar habitando apenas a esfera do reino onírico de Morfeus...

 

Au Revoir...